terça-feira, 15 de outubro de 2019

CADAHORAUMA - FIM



Estou encerrando minhas postagens em CADAHORAUMA. Gostaria de agradecer aos pouquíssimos companheiros que ficaram comigo até o fim e, também agradecer aqueles que talvez por falta de melhor opção, leu pelo menos um dos meus textos. Essa brincadeira começou com uma PEDRA, passou por muitas ESTRADAS e terminou  com A SÉTIMA EXTINÇÃO, uma tirada catastrófica. Durante 5 anos, apresentei alguns "causos"inspirados em várias fontes dentre as quais o Google é a maior delas. Mas fui perdendo inspiração e cheguei a apresentar alguns trabalhos um tanto insossos que levaram aos meus poucos seguidores a desistirem de mim. Se bem que não levo isso muito a sério pois escrevo para mim mesmo e posso garantir com grande  folga que sou o maior leitor dos meus próprios textos.Estou parando mas o arquivo continua aberto e assim ficará até que o sistema permita.
  Obrigado : www.cadahorauma blogspot.com.br

domingo, 13 de outubro de 2019

A SÉTIMA EXTINÇÃO



"O senhor não vai morrer... eles vão matar o senhor".

                                                                      Chaves


"O FIM ESTÁ PRÓXIMO"

Desde que nasci que tenho ouvido essa expressão. Como a terra tem quase cinco bilhões de anos, se dissermos que tudo vai acabar  em digamos 700 anos, então o fim está realmente próximo. Bom, temos muito o que fazer ainda, mas essa geração não está fazendo nada, só especulando e, a contagem regressiva já começou. O que pode acontecer em 700 anos já que estamos devastando o planeta como uma praga de gafanhotos? Com o aquecimento constante do planeta, o nível dos oceanos vai subir  175 metros o que significa que metade do globo estará submerso. O mundo ficara reduzido em   apenas dois continentes. Praticamente todas as ilhas desaparecerão, ficando apenas alguns picos de rochas apontando para o céu, pedindo socorro. Com o fim do degelo, as águas dos oceanos se estabilizam e nessas alturas a maioria dos seres humanos estarão vivendo em habitações flutuantes, em comunidades sob redomas de vidro ultra temperado pois nem o alumínio resistirá as altas temperaturas. Com a alta temperatura, a evaporação será muito alta, o que ocasionará precipitação frequente (muita chuva) o que felizmente  estabilizará o abastecimento de água potável.
Então não haverá extinção da raça humana? Ainda não pois esse processo é muito lento e a  população vai evoluindo e se adaptando as mudanças. No entanto...
Bem, a população humana que hoje está na casa dos oito bilhões terá que ser reduzida à cerca de um terço disso. Calma aí, ninguém será  eliminado sumariamente. Esse processo é lento. Haverá leis rígidas sobre natalidade. Por decreto, os humanos serão obrigados a entrar no programa de esterilização do governo. Para continuar a espécie, serão sorteados uma parcela  de casais que 
poderão ter um único filho.  Os computadores farão um balanço anual entre nascimento e mortes e estes sorteios poderão sofrer alterações para cima ou para baixo para manter o equilíbrio. Por causa da evaporação exagerada e a constante precipitação de água pura, os oceanos entrarão num processo de dessalinização que levará ao desaparecimento das espécies marinhas e isso é claro que será uma premonição para uma SÉTIMA EXTINÇÃO. Praticamente não haverá mais empresas privadas. Todo mundo será funcionário publico e sem remuneração. Todos terão um cartão de auto sustentação, com limites correspondentes a categoria ou função de cada um. Os "desempregados" ou inválidos receberão um cartão "PRO BONO" com o limite mínimo (salário mínimo) e não haverá mais aposentadoria (nadas a ver com Bolsonaro).  As fazendas de criação e produção de alimentos serão subsidiadas pelo governo e toda a produção será de propriedade do governo que distribuirá de  forma justa. Não haverá lucro uma vez que não existirá mais dinheiro a circular.E de onde virão os recursos para a gestão governamental? Virão do intercambio entre as nações. Um produz isso, outro aquilo e a balança comercial continuará flutuando. Continuará a existir as organizações mundiais para resolver os problemas divergentes. A  ONU determinar uma única constituição para todas as nações e somente as crenças religiosas serão livres. Os crimes serão reduzidos a quase zero uma vez que não haverá mais dinheiro, bens pessoais e comércio que induz ao furtos e roubos. O lazer e o turismo serão desestimulados uma vez que a curiosidade humana deixará de ser motivada, ficando as viagens apenas a serviço por força das funções, e isso com os cartões de embarques do governo. Não haverá estímulo ao consumo portanto a industria se limitará ao destino básico da população.  Lembrem que a população está vivendo um um processo de sub existência portanto não fará sentido qualquer tipo de ostentação. Roupas e calçados serão distribuídos e serão padronizados diferenciados apenas por sexo.
O esporte prevalecerá mas não haverá mais campeonatos mundiais para evitar deslocamentos desnecessários e dispendiosos. As crianças serão patrimônio da humanidade Todo adulto verá qualquer uma delas como seu filho (a) mesmo sem qualquer vínculo hereditário. 
E aqui, ficamos nós desfrutando deste maravilhoso mundo enquanto aguardamos a SÉTIMA EXTINÇÃO.

                              "Segure seu filho no colo, abrace seus pais enquanto estão aqui..."

                                TREM BALA - musica de Ana Vilela.

Graças a Deus, esse texto é uma ficção . SERÁ? 

domingo, 22 de setembro de 2019

360º


Hoje dei uma olhada em volta de mim. Nossa como é bonito o meu entorno. Sou grato por ter nascido em Santa Justa (MG)  e ter pertencido a uma grande família de dez membros dos quais ainda somos sete. Os três que se foram permanecem entre nós em saudosa memória. Grato também por ter constituído uma segunda família de cinco membros e por sentarmos juntos na mesa e dar graças pelo
 pão recebido. Nesse giro de 360º em torno de mim, sou grato por reconhecer Deus em todas as coisas até nos caminhos de formigas que desvio para não pisar em cima. Grato por poder olhar em todas as direções, consciente de que a TERRA é realmente redonda e portanto os horizontes serem infinitos.Grato por  ter tido a liberdade de tomar todas as decisões certas ou até erradas, sem nenhuma vez ter sido subjugado nem mesmo induzido. Olhando em volta de mim, vejo a fartura de qualidade de vida que vale a pena viver: o vento, a chuva, o sol, as plantas, os animais, até mesmo os insetos que tem tão pouco tempo de vida mas que é suficiente para procriar e fazer o mundo seguir adiante. Sou grato por ser um volume ocupando um espaço que é só meu. Mesmo quando levo um empurrão, o meu espaço vai comigo. No giro de 360º vejo os caminhos por onde andei, tudo que fiz e tudo que ainda posso fazer. Já fui estudante, escriturário, cobrador, vendedor, montador, ambulante. Já vendi móveis, roupas de cama, pregos, limões, doces, sorvetes, temperos. Isso na vida real, pois na fantasia, já fui aviador, comerciante de peles, guitarrista, guerrilheiro, soldado mor, saltimbanco, ator, autor, patrulheiro e viajante. Como viajante de verdade, já estive em SERRA NEGRA, ÁGUAS DE LINDOIA, MONTE SIÃO, JACUTINGA, OURO PRETO, RIO DE JANEIRO, BELO HORIZONTE, FORTALEZA, BRASILIA (DF), APARECIDA E É CLARO EM SÃO PAULO. Em fantasia, já percorri o mundo inteiro. Trabalhei tanto na vida que não tive tempo de ficar rico ou será que esta é a minha riqueza? Creio que sim pois se fosse rico não tinha tido tempo de ler mais de 100 livros na vida, não teria tempo de ter visto uns mil filmes. Não teria tido tempo de ter ido ver o senhor Silvio Santos e ter ficado cara a cara com o "Homem Sorriso". Não teria tido tempo de assistir ao vivo um show de Roberto Carlos e ter visto de pertinho o rei da Jovem Guada. Feliz por ter nascido no ano em que terminou a SEGUNDA GUERRA MUNDIAL  e no começo da PRIMAVERA. Estou fazendo esse giro de 360° porque hoje é meu aniversario de 74 anos e sou grato por isso. Vou continuar a observar o meu entorno por ainda muitos anos, se Deus assim o permitir.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

GUAJURÍS - FIM


O MENTIROSO


Fim? Acaba assim mesmo, sem pé nem cabeça? Para onde foi a aldeia? para onde foram  os índios?
Para começar, não existe na verdade uma tribo GUAJURÍS, Existe sim os GUAGIROS, nativos da Colômbia e Venezuela. Quando um contador de histórias não quer passar por mentiroso, ele cria um personagem que passa a ser "real" já que foi criado. Se não existe os GUAJURÍS,  então devemos admitir que o senhor Valec passou por delírios terríveis ao ponto de pensar que vivenciou tudo isso?
Que viveu  entre mortos por três longos meses? Após o suposto SACRIFÍCIO, ele se vê, sozinho numa  clareira natural na floresta, vestindo seus trapos originais e faminto...
Bem, eu não inventei esta história, meu personagem a contou. Se você conseguiu chegar até o fim desta narrativa, muito obrigado e não o culpo por não acreditar nesta história "cabeluda". Pode, e deve escrever o seu nome no ABAIXO ASSINADO, que coloca o pobre e infortunado senhor Valec como um tremendo MENTIROSO.


terça-feira, 7 de maio de 2019

GUAJURÍS


CAP. - VI - O SACRIFÍCIO

Quem não pode com o inimigo, junta-se a ele. Esse é um velho conceito de sobrevivência em guerras. Ou você morre como herói ou se entrega como covarde e aguarda o veredicto do conselho de guerra, no caso o conselho dos aniões. Esses veredictos nunca são favoráveis aos vencidos, mas no momento você permanece vivo e a  possibilidade de uma evasão é sempre uma esperança. No meu caso, já considerava uma vantagem pelo fato de ser o único vivo. Além do mais, a promessa do cacique de que ninguém me faria mal na aldeia era também um fato positivo. Me lembro que minha mãe sempre dizia que que eu não temesse os mortos pois o perigo está é entre os vivos. Bom,  se minha mãe estivesse aqui, viva e rodeada de almas penadas, talvez pensasse diferente. Mas eu estava de fato, muito bem tratado entre os mortos. O cacique era mesmo um bom anfitrião. Os criados, já não mais disfarçavam na hora de aparecer ou desaparecer. Um dia quase esbarrei na índia que saia do meu quarto com uma braçada de lençóis. Notei que ela aparecia sempre vestida com a mesma roupa de sempre. Parece que se trocara para uma ocasião especial em tempos remotos e nunca mais precisara trocar de roupá. Eu circulava livremente pela aldeia e me sentia muito bem junto aquela gente hospitaleira. Muitas vezes a aldeia estava deserta, por ser a hora do "descanso" e outras vezes eu  quase desbarrava em mulheres carregando coisas, quando elas surgiam de repente, vindo do além. Sempre que passava diante do "altar"sentia que meus pelos se levantavam. Tinha medo, é  claro, mas aquela rocha negra parecia tão inofensiva  que eu começava a acreditar que tudo aquilo era somente folclore. Nada de mal poderia vir daquela rocha. Aquilo era só uma pedra. 
O cacique se fechou novamente. Não consegui extrair mais nada da sua história. Não pude saber como ele se transformara em cacique da tribo, sendo branco, nem como ele teria morrido, se morrido, uma vez que ele se afirmava estar bem vivo, apesar de ter 300 anos. Um dia vi o aviãozinho aterrissar no aeroporto. Corri para lá curioso. Chegando perto, vi a porta do avião abrir mas não vi ninguém desembarcar. Piloto fantasma, que surpresa. Fiquei observando, daí a pouco o piloto se materializou do nada, descarregando caixas. Ofereci ajuda e ele aceitou de bom grado como se fossemos velhos amigos. Outros vieram ajudar e levamos tudo para a bodega. Um abastecimento normal como  em qualquer sociedade. De que eu poderia ter medo? Na hora do jantar, resolvi abordar mais uma vez na esperança de adquirir mais conhecimento dos mortos.
- Senhor Januário, se todos estão mortos, como podem comprar coisas em Manaus?
- O senhor insiste em dizer que estamos mortos, meus servidores vão a Manaus, visitam armazéns, compram coisas, como podem estar mortos?
- Então porque eu não posso embarcar naquele avião e ir embora?
- Pode, o senhor quer ir? Lembra que lhe falei que se sair da aldeia o senhor não existe? Então embarque, vá, o senhor é quem sabe. "Eu é quem sei", pois sim, Eu estava na mão daquele feiticeiro e ele diz que eu é quem sei..
- Vou ficar.
E fiquei, me entreguei  aos caprichos do cacique e ofereci em trabalhar na horta, para matar o tempo. Sendo o único totalmente vivo, poderia trabalhar em tempo integral e passar mais tempo fora de casa, longe dos fantasmas.  Já estava acostumado aos desaparecimentos dos índios e não me importava se eles estivessem vivos ou não. A noite, confabulava com o cacique mas não extraía mais segredo nenhum. Notei que ele andava um pouco triste, meio chateado, mas não dizia porque. Um dia ele suspirou e disse de repente:
- Estou cansado de viver.
- Como?
- Nada, vamos desligar o gerador e dormir
.Estava trabalhando na horta e ouvi grande barulho na aldeia. Uma gritaria danada, um barulho infernal. Vi rolos de fumaça negra e pensei. 
- Meu Deus, aldeia está pegando fogo.
Corri para lá e quando entrei no centro da aldeia uma multidão estava reunida em torno da pedra. 
Era tanta gente que eu não conseguia chegar perto. Subi num oca e me me agarrei como pude para observar o que estava acontecendo. Havia dez fogueiras em torno da pedra e em uma especie de palanque estavam três velhos índios seminus com grandes cocares na cabeça e estandartes nas mãos. Eles batiam os estandartes e curvados como velhos que eram, gritavam uma palavra indecifrável.
 O povo dançava uma dança frenética, acompanhado o batuque dos estandartes e gritavam:
- "GUAJURÍS, GUAJURÍS, GUAJURIS, 
As fogueiras crepitavam e  por entre as línguas das labaredas eu verifiquei que havia uma figura humana sobre a plataforma. Era próximo as 18 horas e através da fumaça negra, agora meio que violeta, por causa do por do sol, eu pude ver o  rosto do infeliz sobre a pedra. Ele se virou para mim e sorriu. Era o cacique. Ele não se debatia, nem tão pouco estava amarrado. Parecia feliz por estar  ali sendo cosido vivo. As chamas não o atingiam diretamente, mas o calor provocado por aquelas 10 fogueiras enormes em torno da pedra, se não o queimava diretamente, deveria cozinhá-lo  lentamente.
Pensei, Meu Deus, esse homem é realmente vivo, senão não teria se oferecido para o sacrifício. Queria fazer alguma coisa  mas não tinha como passar por aquela multidão e mesmo que conseguisse não teria como me aproximar do altar, passando por aquele fogaréu todo.
E os índios gritavam GUAJURÍS, GUAJURÍS, GUAJURÍS, executando evoluções frenéticas em êxtase. 
De repente eles começaram a girar em torno da pedra.... não, era a pedra que estava girando lentamente e acelerando. GUAJURIS, GUAJURIS, GUAJURÍS, O altar acelerou ainda mais e começou a se elevar, saindo do interior da terra. Era grande, como uma cunha sendo extraída e subindo lentamente como um foguete sendo lançado em CABO CANAVERAL. Quando a grande cunha finalmente se libertou da terra  como uma rolha, já tinha uns 30 metros de comprimento e finalmente subiu para o espaço. Era um imenso cilindro antes preto, agora vermelho, como se as  fogueiras o tivesse aquecido ao ponto de combustão. Houve um baque, uma especie de estouro mudo e a choupana em que eu estava escarafunchado se desmoronou. Eu caí em cima de uma moitas macias. Não havia mais choupana, não havia mais nada, não havia mais aldeia. Só uma grande clareira natural no meio da floresta. Havia sim um lindo por do sol atrás das montanhas. Me levantei, me apalpando, para ver se estava vivo. Estava. Só que vestia meus antigos trajes andrajos, estava sujo, cabeludo e faminto. Andei meio que aos tropeções e desbarrei com meu velho bornal de couro, com as  cordas e o cutelo dentro.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

GUAJURÍS


CAP. - V - A PEDRA

Já fazia dois dias que eu estava na aldeia e pouco sabia sobre aquele povo. O cacique relutava em ir direto aos fatos, sempre evasivo mas deixando pontas soltas de fios que eu procurava emendar e tentar o meu próprio entendimento. De tanto eu cutucar ele finalmente abriu um pouco e começou a falar sobre o marco da propriedade Era uma rocha circular que sobressaia dois metros acima da superfície, formando uma plataforma que em tempos remotos fora usada como altar de sacrifícios.
- Sacrifícios? Já houve sacrifício humano ali?
- Oh! Sim e muitos, creio. 
- Em nome de quem, eram essas oferendas? 
- Ao Deus Guajurí, Supremo criador do mundo e do  povo Guajurís .
- E porque pararam os sacrifícios?
- Creio que por falta de matéria prima - o cacique rio da própria piada. 
- E o senhor, como entra nesta história, sendo um homem branco?
- Eu cheguei aqui em 1727...
- 17... ? Mas nós estamos em 2009, como o senhor...
O cacique fez um gesto com os ombros, como que confirmando as minhas suspeitas. Eu já estava meio que desconfiado com os vai e vem dos índios, quero dizer, desaparecimentos, mas agora diante de um homem de 300 anos... um calafrio percorreu minha espinha. 
- Senhor Januario, me diga a verdade, essa gente está toda morta? Inclusive o Senhor? Eu também estou morto e sou apena mais um habitante dessa Zumbilândia?
- O senhor não está morto, e nós também não. Estamos bem vivos a nossa maneira.
- senhor, muito obrigado pela hospitalidade, eu não estou mais interessado em nada por aqui, vou pegar minhas coisas e voltar para o pântano...
- Não é tão simples assim. Somente os anciões poderão decidir o seu destino. E eles estão descansando e o descanso deles dura um ano. O próximo retorno é em julho, ou seja daqui a 3 meses.
- Mas tem muitos velhinhos na  aldeia.
-  Tô falando dos verdadeiros anciões, os que compõe o conselho.
- E porque  eu  não posso simplesmente fugir?
- Porque o senhor só existe aqui nessa aldeia,  se voltar para a floresta deixará de existir e como fugirá se não existe?
 - Então em vezes de hospede, sou um prisioneiro?
- Não é prisioneiro, é um homem livre, pode circular livremente pela aldeia e ninguém lhe fará mal algum. 
- Não pode convocar um conselho de emergência?
- Podemos sim, mas só através de um sacrifício, o senhor se habilita?
Foi aí que me toquei que sendo a única pessoa viva por aquelas bandas seria também único habilitado ao sacrifício. Já até imaginei qual seria o veredicto do conselho de anciões. Precisava fazer alguma coisa mas no momento só conseguia pensar na PEDRA.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

GUAJURÍS


CAP. - CP. IV - O JANTAR

 Eram exatamente l8 horas quando eu fui convidado a sentar em outra cadeira de balanço ao lado do meu anfitrião. Como disse, o sol se punha atrás das montanhas e era impossível não admirar aquele lindo espetáculo. Na frente da casa, os dois velhos índios desapareceram como mágica, da mesma forma que os dois moços que me escoltaram pela floresta também o fizeram, isto é, desaparecimentos instantâneos, sem explicação. E essas ocorrências se verificavam exatamente de duas em duas horas. Eu estava  com um relógio e vinha acompanhando esta particularidade. E lá embaixo na aldeia, o barulho cessou justo nesse momento. Achei estranho aquele silencio repentino como se alguém tivesse usado um controle remoto e desligado tudo lá embaixo. Minhas divagações duraram poucos segundos pois nesse momento o meu anfitrião falou:
- Seja bem vindo a minha casa senhor...
- Obrigado, Meu nome é Valec e  estava meio perdido e fui alertado que fiz uma casa em suas terras. Eu não sabia, nessa imensidão de floresta não há cercas e eu não poderia saber que estava invadindo.
- De fato não há cerca mas o senhor tentou se estabelecer em minha propriedade e os meus servidores tiveram que interferir, queira me desculpar. Meu nome é Januário, Por forças de circunstancias, me transformei em CACIQUE JANU, chefe do povo Guajurís. Nossa propriedade compreende trinta quilômetros de de circunferência, contando a partir de um marco natural existente no centro da aldeia e  está registrada em cartório de Manaus.
- Registrada? Nesse caso trata-se de um povo  vinculado à civilização, falam o português claro e não são hostis, como pude comprovar.
- Não são hostis e não vão lhe fazer mal algum. Vamos ter oportunidade de confabular por muito tempo mas no momento creio que é minha obrigação ser hospitaleiro e vejo que o senhor está precisando de cuidados.  Vamos entrar, o senhor precisa de um bom banho. Nesse momento estamos sozinhos, os criados estão descansando. As 20 horas eles retornam e o jantar será servido. 
Passamos para dentro da casa e o cacique me mostrou o banheiro. Já estava bem equipado com toalhas limpas, tesoura e navalha na bancada e roupas limpas penduradas em cabides. A primeira coisa que fiz foi aparar o cabelo da melhor forma possível e fazer a barba. Depois tomei uma bela ducha quente, coisa que não fazia ha muito tempo. Quando entrei na sala, o cacique me esperava com dois copos e com dois dedos de uma cachaça amarelinha. 
- Nossa que transformação, o senhor é outra figura e minhas roupas lhe caíram muito bem, temos o mesmo porte físico. 
Tomei um gole da cachaça e me senti reanimado e como estava muito curioso a respeito de tudo fui direto ao assunto. 
- Obrigado por me acolher senhor Januário, eu estava mesmo precisando de cuidados. Acho que iria acabar morrendo da floresta se o senhor não tivesse me acolhido. Mas estou  morrendo de curiosidade por tudo isso. O senhor é um homem branco e mesmo assim é chefe de uma tribo indígena...
- Eu entendo como o senhor se sente, está um pouco confuso em relação ao nosso povo, garanto que lhe contarei o que que posso, mas tem muita coisa que depende do conselho de anciões e aí não depende somente de mim. 
- Certo, e eu não quero me intrometer nos seus assuntos, caso lhe venha prejudicar em alguma coisas, talvez seria melhor o senhor providenciar a minha volta para a civilização...
- Civilização? Então acha que não somos civilizados?
- Eu não quis dizer isso, quero dizer voltar para Manaus, notei que tem um campo de pouso na aldeia.
- Sim, temos um aeroporto e mantemos contato com Manaus, Belém e até São Paulo. Mas não podemos transportar passageiros em nenhum sentido. Para todos os efeitos essa é uma aldeia isolada do mundo. Meus contatos com as cidades são  com gente nossa. Para todos os efeitos O povo Guajurís não existe...
- Não existe? Então...
- Olhe, vamos fazer o seguinte, o senhor deve estar com fome, talvez queira beliscar alguma coisa antes do jantar, vou pegar alguma coisa na cozinha. 
O cacique se levantou contornou a mesa, ao passar por um espelho na parede eu não vi... quero dizer alguma coisa me intrigou mas pensei ser apenas imaginação minha. Ele retornou com um bom pedaço de carneiro assado e serviu mais uma pinguinha. O naco delicioso de carne assada, serviu de pretexto para mudar de assunto.  O cacique levou a conversa para assuntos mais doméstico e eu senti que não queria  falar sobre as minhas suspeitas de algum mistério. Então ele começou a descrever sua própria casa, as instalações da aldeia, o aeroporto, a bodega,o gerador,   os currais, a horta até que o relógio bateu 20 horas. 
 - Pronto, o jantar será servido agora, os criados retornaram. 
 - Retornaram? Onde?
 - Atrás do senhor. 
Eu me virei e quase desbarrei em uma índia que vinha se aproximando com uma bandeja. Ela sorriu para mim, depositou a bandeja de comida sobre a mesa e deu passagem a outro "pele vermelha" que se  aproximava com pratos e talheres. Ouvi o burburinho de mulheres na cozinha e barulho de mobília. Lá embaixo na  aldeia o alvoroço também recomeçou. Não me contive.
- Desculpe senhor Janu, mas o senhor pode me dizer de onde surgiram esses funcionários assim tão de repente, eu quase desbarrei nessa moça que não estava aqui a um segundo atras. 
- Senhor Valec, vamos nos servir. Para estas pessoas o jantar é quase um cerimonial, eu já fui repreendido pela cozinheira por ter ido mexer em suas panelas. Por favor aprecie o seu JANTAR.    

quarta-feira, 17 de abril de 2019

GUAJURÍS


CAP.. - III - O CACIQUE


Parece que uma grande comitiva de recepção me aguardava na aldeia ou seria somente  curiosidade dos "condôminos"?  Todo o povo da aldeia estava na grande praça e em outros pontos de observação. Reparei que todos se vestiam a "carater"como se a minha chegada a aldeia fosse uma grande ocasião. Quero dizer, imaginava índios seminus, ou usando minusculas tangas mas, o povo limpo e bem vestido que vi na minha frente me deu a  entender que aquele era um dia festivo. Apesar de que suas vestes, tando as dos homens como as das mulheres,serem feitas de peles, talas de madeira ou fibra trançada, tinham um colorido variado, bonito de se ver. As mulheres usavam os cabelos bem penteados ou armados com tranças bem feitas e ornados com flores silvestres. Os  anciões, tinham os cabelos lisos e branco com neve. Os mais moços usavam umas tangas de fibras e tinham o dorso nu pintados de desenhos coloridos. "Guerreiros", pensei no entanto, estavam  desarmados e não demonstravam nenhum tipo de hostilidade. Só as crianças pequenas, estavam completamente nuas, mesmo assim, aparentavam bem cuidadas, cabelos bem cortados. Legítimos curumins.
Me senti um pouco encabulado e envergonhado por estar todo descabelado, barbudo e usando trajos andrajos que mal cobria meu corpo sujo. Mesmo assim, o povo sorria para minha e dava passagem respeitosamente fazendo acenos amistosos. Dois anciões se adiantaram e fizeram sinais aos dois "soldados" que me escoltavam e assumiram o comando da minha guarda.  Fui guiado por entre a multidão que respeitosamente davam passagem. Uma criança tentou quebrar o protocolo e se aproximar de mim mas foi contido pela mãe que sorriu para mim e ficou afogando carinhosamente a cabeça do menino. Os anciões, sempre fazendo gestos me conduziram para fora da aldeia, pelo lado do portão norte.Seguimos por um caminho tortuoso que subia uma pequena elevação. Se aproximavam as 18 horas e o sol já se punha atras das montanhas. Um lindo crepúsculo. Eu estava muito cansado pois a jornada de 30 km pela floresta que fora bastante puxada para mim que estava mal  alimentado a muito tempo. Os meus sapatos rotos já não serviam mais para proteger os meus pés e logico não ajudavam em nada na indumentaria. Eu arrastava os pés atrás dos velhotes que  comparados a mim, pareciam jovens escoteiros seguindo a trilha. Por que diabos estamos deixando a aldeia novamente? Não fiz essa pergunta formalmente, mas suponho que se tivesse feito minha curiosidade não seria satisfeita pois os velhotes pareciam que eram mudos. Não falavam nada, eu gostaria de saber para onde estariam me levando. De volta para a floresta? Quando o caminho fez uma curva atras de uns arvoredos, avistei uma grande casa em estilo colonial, toda rodeada por um alpendre. Era uma típica casa de fazenda, se bem que deslocada uma vez que estávamos em plena floresta amazônica. Na varanda da frente, estava sentado em uma grande cadeira de balanço, um homem branco aparentando uns 40 anos, vestido de calças de couro mas com o peito nu. Tinha na cabeça um bonito cocar de penas. O homem acenou para que eu me aproximasse então subi os 3 degraus de tronco rustico e me apresentei diante do cacique. 

terça-feira, 9 de abril de 2019

GUAJURÍS



CAP. II - "CIVILIZAÇÃO"

O meu assentamento durou muito pouco tempo. Nem mesmo deu tempo de  me acostumar com a nova morada tive que "levantar ancora ". Certo dia, voltando da caça, me deparei com dois índios observando minha cabana. Eu vinha cabisbaixo e quando os vi, já estava muito em cima e foi justamente nesse mesmo momento que eles também me viram. Ficamos ali parados, sem saber o que fazer, nem eles nem eu tivemos um a reação imediata. Os dois não estavam armados de arco e flecha, o que era de se esperar de índios, nem tão pouco demonstraram hostilidade. Como estavam parados a porta de minha casa, me pareceu ser minha obrigação ser educado e cumprimentá-los, dando-lhes as boas vindas. Lembrei me de filmes americanos e, de como os índios se cumprimentavam então, levantei a mão direita espalmada e disse:
Au!!!.
Os dois se entreolharam e o mais alto se dirigiu a mim.
-Au ???, Porque você está falando a língua dos cachorros?
- Ora, ora, vocês falam português e ainda por cima com sotaque gaúcho?
- Você queria que falássemos alemão? Estamos no Brasil, cara.
- Claro estamos no Brasil mas vocês são índios, pelo menos é o que parece.
- De fato somos índios, mas não é por isso que temos que falar a língua dos nossos ancestrais.
- Mas que ótimo, sejam bem vindos a minha casa. Não tenho muito a oferecer, não tenho café e nem uma geladinha, só alguns ovos de passarinhos.
- Obrigado, nossa demora é curta, só o tempo de você derrubar a sua casa.
- Derrubar? Mas acabei de construir e estava pensando em fazer um quarto de hóspede para amigos como vocês.
- Está em terras do CACIQUE, não pode ficar.
- Cacique? Então vocês tem uma aldeia por perto, adoraria conhecer.
- E vai, pois temos ordens de levá-lo a presença do cacique mas, se não quiser ir não será obrigado, basta voltar para o seu pântano, que é terra de ninguém.
- Como vocês sabem que eu venho do pântano?
Ele abriu a boca para responder mas o outro lhe tocou no ombro, então ele se calou.
- Onde fica a  aldeia de vocês?
-A 30 km naquela direção, atrás da colina. 
- Vocês estão bem longe de casa.
- Você  parece estar bem mais longe ainda, quer ajuda na demolição do barraco?
- Não pode ficar de pé? Para o caso de um entendimento com o cacique?
- Não haverá entendimento nesse sentido, no entanto você será bem vindo a aldeia. O seu destino, o cacique e os anciões é quem decidirão.
Bem, eu estava em vias de encontrar uma civilização, e é isso que eu queria o tempo todo e voltar para o pântano, não era a melhor das escolhas. Botamos abaixo a cabana, que não era lá grande coisa mesmo, peguei meus poucos pertences e segui os nativos rumo a uma grande caminhada. Os índios eram hábeis em andar pela mata e eu próprio já estava meio que familiarizado com as dificuldades da floresta, tanto que a nossa viagem prosseguiu sem maiores transtornos. Quando já havíamos percorridos cerca de uns 10 km, segundo os meus cálculos, paramos a beira de outro riacho. O índio me entregou um relógio falou que eu descançasse por duas horas, que eles também iriam descansar.
Faltava um minuto para o meio dia. Fiquei entretido, observando o relógio pertencente a um índio, quando levantei as vistas eles havia desaparecido num passe de mágica. Achei estranho, pois minha distração durara poucos segundos, mesmo assim não os vi afastar. Simplesmente desapareceram. 
Paciência, encostei em uma árvore, e pensei ter tirado apenas um cochilo quando os índios chutaram o meu pé:
- Levanta Gringo, vamos embora.
Mais duas hora de caminhada, nova parada para descanso e novo desaparecimento misterioso dos meus companheiros. Reapareceram de novo do nada atrás de mim, como se materializassem de repente. Questionei sobre esses sumiços e retornos assim tão sutis, mas eles nada disseram,  apenas seguiram em frente. Alguma coisas inexplicável estava acontecendo. Ou eles eram muitos hábeis em sair e voltar furtivamente, ou eu era muito lerdo para perceber. Confesso que estava meio apreensivo com a perspectiva de encontrar uma civilização desconhecida. Três meses na floresta, vivendo a custa do  que a natureza tinha a oferecer, sozinho, buscando o meu próprio sustento e  achava que estava perdido. Mas agora, em vias de viver uma realidade em meio a desconhecidos, não me sentia muito a vontade em relação ao meu futuro.  Me recordei de quando o índio quis falar do do pântano e foi barrado pelo outro. Porque? Que importância  poderia ter em fala sobre o pântano? Bem, eles eram subordinados a alguém superior e pelo vistos suas funções se reduziam em me conduzir até o cacique. Eles inclusive não demonstraram hostilidade  e até me deram a opção de voltar  ao pântano. Mesmo assim, eu não estava me sentindo muito a vontade e agora era tarde para voltar atrás pois foi justamente nesse momento  minhas conjeturas foram interrompidas pois atravessamos o portal da aldeia. Aproximava-se as l8 horas. 


terça-feira, 2 de abril de 2019

GUAJURÍS - CONTINUAÇÃO


CAP.  I - O NAUFRÁGIO

Meu nome é Valec. Não sou cientista, pesquisador, erudito, professor nem tão pouco escritor. Por forças de circunstâncias, me transformei em palestrante e aqui acolá, alcunhado de MENTIROSO, por conta de que não tenho como comprovar a veracidade da minha história. Ao longo da vida, a gente passa por graças e infortúnios que nos apresentam em momentos de isolamento e solidão, sem o testemunho de terceiros ou apresentação de registros comprobatórios legalmente válidos. O que exponho nesse relato, aconteceu de fato e peço veementemente a quem desse tomar conhecimento, que divulgue, repasse e dê fé pois se juramento tivesse força de lei eu não precisaria implorar credibilidade, bastaria jurar, o que não faço pois o mundo já está cheio de falsos juramentos. Mesmo dispondo de apontamentos feitos de próprio punho, ainda tenho que implorar que os aceitem como válidos, que não foram inventados, forjados.
Andava eu pela floresta amazônica,  não  como pesquisador, aventureiro, turista nem desbravador de mistérios da floresta, nem como caçador de aminais exóticos ou espécies raras da flora ou d fauna, apenas como homem perdido vítima de um naufrágio de um barco de viagem pelo rio Solimões. Me é dispensável descrever o motivo de tal viagem visto que um cidadão é livre para ir e vir nesse país, e somente dar satisfação, caso lhe aprouver. Nosso barco naufragou em uma remota curva do rio e partes dos destroços vieram a encalhar entre alagadiços num sitio perdido do mundo.Dos outros passageiros e tripulantes, nunca tive conhecimento de qual destino tiveram, se sobreviveram, se morreram, mesmo depois, quando voltei à civilização e tentei averiguar. Era um barco clandestino e embarcamos também em um porto clandestino, de forma não haver na capitania dos portos de Manaus nem mesmo registro de tal acidente. Isso não vem ao caso e não a motivo para alterar ou interferir nos fatos que aconteceram comigo desde então. Pois bem, levei quase dois dias para sair do alagadiço, encontrar chão mais firme para pisar, ainda que nessas paragens tudo estava sempre molhado. Já imaginando a minha penúria, antes de abandonar os destroços do barco, procurei encontrar alguma coisa de alguma utilidade e somente encontrei um  bornal velho de couro contendo saquinhos de um pó branco, os quais atirei ao rio, uma vez que não era da minha índole traficar ou consumir tal material. Encontrei também uns pedaços de corda e um cutelo  velho enferrujado. , objetos que me pareceram de grande utilidade para um homem perdido na floresta. Mas também, se por acaso tivesse encontrado um sortimento maior de coisas, não teria como transportar por aquele alagadiço trançado  de juncos e de cipós. Enfiei as cordas e o cutelo no bornal, pendurei no pescoço e dei início a minha fuga, supondo que o terreno firme estivesse mais próximo. Foi aí que realmente percebi que estava de fato perdido. Era bem fundo o que eu achava que fosse a margem do rio e aquele alagadiço penetrava floresta adentro. Mal conseguia pisar em uma lama mole, ou tudo aquilo seria somente lama? Não afundava justamente por ser muito trançado de juncos e cipós. E como era floresta mesmo, tinha as árvores onde eu pudesse me apoiar e seguir em frente. Seguir em em frente, em termos pois as vezes achava que não saia do lugar pois tudo em volta  parecia igual e já estava escurecendo.  Caiu a noite e segui em frente, ou para direita, para esquerda e possivelmente para traz em virtude da desorientação.Quando notei que o dia estava raiando, senti pisar mais firme, apressei o passo e saí no "seco".Deitei de costas ali mesmo na lama pois estava exausto e  precisava comer. Pensei, onde será que se acha um bom café por aqui? Avistei alguns arbustos floridos e abelha sugando o pólen. Ora, se abelhas podem comer, acho que também posso.  Comi algumas flores que não tinham gosto de nada, o que sugeria segurança alimentar. Depois de escapar de um  naufrágio, conseguir sair de um alagadiço daqueles, achar flores para comer, cheguei a conclusão  que minha sorte não era das piores. Salvo ser atacado por índios ou feras, poderia continuar a sobreviver. Água é o que não faltava.
Durante três dias, comi flores, ervas, sementes e raízes, alimentos que se não me mataram, alguns provaram desarranjos intestinais desagradáveis mas que no final me mantinham alimentado na medida do possível. Aos poucos, fui selecionando aquela dieta vegetariana de maneira que o organismo foi aceitando aqueles alimentos sumários. No sexto dia (sabia que era o sexto), porque ainda era possível memorizar, deparei com algo humano, um osso. Soube que era humano, porque tendo trabalhado certo tempo em um hospital, tinha vagamente uma noção da anatomia humana. Era uma tíbia. Pensei, alguém morreu por aqui já faz um bom tempo. 
Daqui para frente, não me preocupei mais em contar os dias, apenas fazia uma estimativa. Para que se preocupar se era sexta, domingo ou quarta? O único compromisso que eu tinha era em me manter vivo e  chegar nalgum reduto habitado, mesmo que por índios. Acreditava que poderia me entender com nativos. O perigo seria topar com onças ou qualquer animal feroz que gostasse de um bom petisco de carne humana. Mas graças a Deus não topei com nenhum e cheguei a conclusão que as feras preferissem sítios mais secos, do que toda aquela umidade. Para dormir, tinha que cortar muitos galhos para improvisar uma cama razoável naquele chão molhado. Certo dia, supondo já ter se passado uns três meses, finalmente encontrei terreno realmente seco. Havia saído oficialmente do pântano. Pensei, aqui deve morar o perigo, feras, índios e talvez até falta de água. Mas não seria justo se minha sorte fosse me abandonar agora. Para continuar andando, teria que me abastecer de água e a única vasilha que dispunha era o  bornal de couro. A mata raleou um pouco e eu pude avistar montanhas a distancia. Bom, floresta, montanhas, clima tropical, chuvas, então, deve haver muitos riachos e, água não deve faltar, vou em frente. De fato, encontrei um regato de boa correnteza, água limpíssima. Eu vinha bebendo água de charcos todo esse tempo e encontrar toda aquela água corrente era como encontrar o paraíso. Julguei que era momento de fazer uma casa. Trabalhei quatro dias cortando varas e limpando um terreno e em uma semana estava com uma cabana bastante razoável. Certa feita, ao lavrar uma madeira, o cutelo escorregou e atingiu uma pedra que soltou faíscas. Mais que depressa juntei folhas secas e gravetos junto a pedra e martelei incansavelmente até que "eureca", descobri o fogo. Daí para frente me senti dono do mundo: casa, água fresca e fogo. Assei rãs, ovos de pássaros e com algumas frutas para acompanhar minha dieta melhorou consideravelmente. Encontrei uma loca para guardar os tições para preservar o fogo pois aquela primeira chama me pareceu um 
acaso. Não seria possível ser preciso, mas por causa do tamanho do meu cabelo e barba, creio que poderia estimar em três meses o tempo que passara desde o NAUFRÁGIO. Já não me considerava um homem perdido na floresta e sim acolhido por ela tanto que a decisão de fazer um assentamento à beira daquele regato seria uma forma de resignação e aceitação. Estaria eu me transformando em um outro ROBINSON CRUSOÉ, TARZAN OU JIN DAS SELVAS?



---------- CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM-----------


- "Sua casa está em terras do cacique, não pode ficar"...
















terça-feira, 26 de março de 2019

GUAJURÍS



NOTA DO AUTOR

Esta história é verdadeira. Pelo menos assim garante o meu narrador que no caso é verdadeiríssimo, pois o conheci pessoalmente em uma de suas palestras. Fictício aqui, é o codinome do então narrador, que assim tivemos que proceder, para que nem ele nem eu viéssemos  algum dia a ter que dar satisfação a quem quer que venha a se sentir ofendido ou prejudicado (ele próprio, parente,  ou protegido seu), caso algum fato ou circunstancia aqui relatados, venha a coincidir mesmo que remotamente, com fatos  ou relatos relacionados a sua pessoa e ou. Eu, particularmente, não tenho crítico e muito provavelmente nem mesmo leitor que venha desta história tomar conhecimento.Os fatos aqui relatados são de responsabilidades do Senhor Valec que garante ter vivenciado esses acontecimentos e gentilmente me permitiu apresentá-los a minha maneira. Que assim seja.




Suzano 01 de março de 2019

 CAP.  I -  O NAUFRÁGIO.

Meu nome é Valec. Não sou cientista, pesquisador, erudito, professor nem tão pouco escritor. por força de circunstâncias, me transformei em palestrante e aqui acolá alcunhado de MENTIROSO...

(CONTINUA NA PROX. POSTAGEM).


sábado, 23 de fevereiro de 2019

O OVO DA DISCÓRDIA


A maneira de quebrar ovos transformou-se em motivo de discórdia em um grande império, dividindo-o em dois partidos de oposição que, em consequência, dividiu-se também a grande nação em dois impérios distintos que viveram em guerra entre si por tempos eternos.
Deu-se da seguinte forma: havia um antigo decreto que estabelecia regras para quebrar ovos o qual determinava o seguinte, "o ovo deve ser quebrado a partir da ponta mais fina.Por séculos essa foi a maneira segura de quebrar ovos que se tornou hábito, a despeito da lei.
Tempos depois, o filho de um grande nobre da corte sofreu um acidente ao quebrar um ovo, ferindo-se com a casca, pegando uma infecção e acabou vindo a óbito. Esse nobre que era membro influente nos meios políticos, entrou com um processo de revogação da lei "quebra ovos" e propondo que os ovos passassem a ser quebrados pela ponta mais grossa. Foi assim que nasceu o PARTIDO PONTA GROSSENSE (PPG) em oposição ao PARTIDO PONTA FINENSE (PPF). Essa discórdia levou as vias de fato rachando ao meio a opinião publica. Os ponta grossenses fugiram em massa para outra ilha, criando um novo império que tornou-se o inimigo nº 1 da nação original.
Para coibir a demanda de novos insubordinados, o imperador do primeiro império decretou emenda à lei determinando que a partir de então, os ovos passassem a ser quebrados de maneira conveniente. Em honra ao  amado monarca, os súditos entenderam que a "maneira conveniente" era conforme o costume, ou seja quebrar os ovos pela ponta fina...

Texto baseado em AS VIAGENS DE GULLIVER.

Nota - projetos semelhantes chegam todo dia em nosso congresso, é por isso que temos 36 partidos políticos.