quinta-feira, 2 de maio de 2019

GUAJURÍS


CAP. - V - A PEDRA

Já fazia dois dias que eu estava na aldeia e pouco sabia sobre aquele povo. O cacique relutava em ir direto aos fatos, sempre evasivo mas deixando pontas soltas de fios que eu procurava emendar e tentar o meu próprio entendimento. De tanto eu cutucar ele finalmente abriu um pouco e começou a falar sobre o marco da propriedade Era uma rocha circular que sobressaia dois metros acima da superfície, formando uma plataforma que em tempos remotos fora usada como altar de sacrifícios.
- Sacrifícios? Já houve sacrifício humano ali?
- Oh! Sim e muitos, creio. 
- Em nome de quem, eram essas oferendas? 
- Ao Deus Guajurí, Supremo criador do mundo e do  povo Guajurís .
- E porque pararam os sacrifícios?
- Creio que por falta de matéria prima - o cacique rio da própria piada. 
- E o senhor, como entra nesta história, sendo um homem branco?
- Eu cheguei aqui em 1727...
- 17... ? Mas nós estamos em 2009, como o senhor...
O cacique fez um gesto com os ombros, como que confirmando as minhas suspeitas. Eu já estava meio que desconfiado com os vai e vem dos índios, quero dizer, desaparecimentos, mas agora diante de um homem de 300 anos... um calafrio percorreu minha espinha. 
- Senhor Januario, me diga a verdade, essa gente está toda morta? Inclusive o Senhor? Eu também estou morto e sou apena mais um habitante dessa Zumbilândia?
- O senhor não está morto, e nós também não. Estamos bem vivos a nossa maneira.
- senhor, muito obrigado pela hospitalidade, eu não estou mais interessado em nada por aqui, vou pegar minhas coisas e voltar para o pântano...
- Não é tão simples assim. Somente os anciões poderão decidir o seu destino. E eles estão descansando e o descanso deles dura um ano. O próximo retorno é em julho, ou seja daqui a 3 meses.
- Mas tem muitos velhinhos na  aldeia.
-  Tô falando dos verdadeiros anciões, os que compõe o conselho.
- E porque  eu  não posso simplesmente fugir?
- Porque o senhor só existe aqui nessa aldeia,  se voltar para a floresta deixará de existir e como fugirá se não existe?
 - Então em vezes de hospede, sou um prisioneiro?
- Não é prisioneiro, é um homem livre, pode circular livremente pela aldeia e ninguém lhe fará mal algum. 
- Não pode convocar um conselho de emergência?
- Podemos sim, mas só através de um sacrifício, o senhor se habilita?
Foi aí que me toquei que sendo a única pessoa viva por aquelas bandas seria também único habilitado ao sacrifício. Já até imaginei qual seria o veredicto do conselho de anciões. Precisava fazer alguma coisa mas no momento só conseguia pensar na PEDRA.

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