CAP. - CP. IV - O JANTAR
Eram exatamente l8 horas quando eu fui convidado a sentar em outra cadeira de balanço ao lado do meu anfitrião. Como disse, o sol se punha atrás das montanhas e era impossível não admirar aquele lindo espetáculo. Na frente da casa, os dois velhos índios desapareceram como mágica, da mesma forma que os dois moços que me escoltaram pela floresta também o fizeram, isto é, desaparecimentos instantâneos, sem explicação. E essas ocorrências se verificavam exatamente de duas em duas horas. Eu estava com um relógio e vinha acompanhando esta particularidade. E lá embaixo na aldeia, o barulho cessou justo nesse momento. Achei estranho aquele silencio repentino como se alguém tivesse usado um controle remoto e desligado tudo lá embaixo. Minhas divagações duraram poucos segundos pois nesse momento o meu anfitrião falou:
- Seja bem vindo a minha casa senhor...
- Obrigado, Meu nome é Valec e estava meio perdido e fui alertado que fiz uma casa em suas terras. Eu não sabia, nessa imensidão de floresta não há cercas e eu não poderia saber que estava invadindo.
- De fato não há cerca mas o senhor tentou se estabelecer em minha propriedade e os meus servidores tiveram que interferir, queira me desculpar. Meu nome é Januário, Por forças de circunstancias, me transformei em CACIQUE JANU, chefe do povo Guajurís. Nossa propriedade compreende trinta quilômetros de de circunferência, contando a partir de um marco natural existente no centro da aldeia e está registrada em cartório de Manaus.
- Registrada? Nesse caso trata-se de um povo vinculado à civilização, falam o português claro e não são hostis, como pude comprovar.
- Não são hostis e não vão lhe fazer mal algum. Vamos ter oportunidade de confabular por muito tempo mas no momento creio que é minha obrigação ser hospitaleiro e vejo que o senhor está precisando de cuidados. Vamos entrar, o senhor precisa de um bom banho. Nesse momento estamos sozinhos, os criados estão descansando. As 20 horas eles retornam e o jantar será servido.
Passamos para dentro da casa e o cacique me mostrou o banheiro. Já estava bem equipado com toalhas limpas, tesoura e navalha na bancada e roupas limpas penduradas em cabides. A primeira coisa que fiz foi aparar o cabelo da melhor forma possível e fazer a barba. Depois tomei uma bela ducha quente, coisa que não fazia ha muito tempo. Quando entrei na sala, o cacique me esperava com dois copos e com dois dedos de uma cachaça amarelinha.
- Nossa que transformação, o senhor é outra figura e minhas roupas lhe caíram muito bem, temos o mesmo porte físico.
Tomei um gole da cachaça e me senti reanimado e como estava muito curioso a respeito de tudo fui direto ao assunto.
- Obrigado por me acolher senhor Januário, eu estava mesmo precisando de cuidados. Acho que iria acabar morrendo da floresta se o senhor não tivesse me acolhido. Mas estou morrendo de curiosidade por tudo isso. O senhor é um homem branco e mesmo assim é chefe de uma tribo indígena...
- Eu entendo como o senhor se sente, está um pouco confuso em relação ao nosso povo, garanto que lhe contarei o que que posso, mas tem muita coisa que depende do conselho de anciões e aí não depende somente de mim.
- Certo, e eu não quero me intrometer nos seus assuntos, caso lhe venha prejudicar em alguma coisas, talvez seria melhor o senhor providenciar a minha volta para a civilização...
- Civilização? Então acha que não somos civilizados?
- Eu não quis dizer isso, quero dizer voltar para Manaus, notei que tem um campo de pouso na aldeia.
- Sim, temos um aeroporto e mantemos contato com Manaus, Belém e até São Paulo. Mas não podemos transportar passageiros em nenhum sentido. Para todos os efeitos essa é uma aldeia isolada do mundo. Meus contatos com as cidades são com gente nossa. Para todos os efeitos O povo Guajurís não existe...
- Não existe? Então...
- Olhe, vamos fazer o seguinte, o senhor deve estar com fome, talvez queira beliscar alguma coisa antes do jantar, vou pegar alguma coisa na cozinha.
O cacique se levantou contornou a mesa, ao passar por um espelho na parede eu não vi... quero dizer alguma coisa me intrigou mas pensei ser apenas imaginação minha. Ele retornou com um bom pedaço de carneiro assado e serviu mais uma pinguinha. O naco delicioso de carne assada, serviu de pretexto para mudar de assunto. O cacique levou a conversa para assuntos mais doméstico e eu senti que não queria falar sobre as minhas suspeitas de algum mistério. Então ele começou a descrever sua própria casa, as instalações da aldeia, o aeroporto, a bodega,o gerador, os currais, a horta até que o relógio bateu 20 horas.
- Pronto, o jantar será servido agora, os criados retornaram.
- Retornaram? Onde?
- Atrás do senhor.
Eu me virei e quase desbarrei em uma índia que vinha se aproximando com uma bandeja. Ela sorriu para mim, depositou a bandeja de comida sobre a mesa e deu passagem a outro "pele vermelha" que se aproximava com pratos e talheres. Ouvi o burburinho de mulheres na cozinha e barulho de mobília. Lá embaixo na aldeia o alvoroço também recomeçou. Não me contive.
- Desculpe senhor Janu, mas o senhor pode me dizer de onde surgiram esses funcionários assim tão de repente, eu quase desbarrei nessa moça que não estava aqui a um segundo atras.
- Senhor Valec, vamos nos servir. Para estas pessoas o jantar é quase um cerimonial, eu já fui repreendido pela cozinheira por ter ido mexer em suas panelas. Por favor aprecie o seu JANTAR.
Nenhum comentário:
Postar um comentário