terça-feira, 9 de abril de 2019

GUAJURÍS



CAP. II - "CIVILIZAÇÃO"

O meu assentamento durou muito pouco tempo. Nem mesmo deu tempo de  me acostumar com a nova morada tive que "levantar ancora ". Certo dia, voltando da caça, me deparei com dois índios observando minha cabana. Eu vinha cabisbaixo e quando os vi, já estava muito em cima e foi justamente nesse mesmo momento que eles também me viram. Ficamos ali parados, sem saber o que fazer, nem eles nem eu tivemos um a reação imediata. Os dois não estavam armados de arco e flecha, o que era de se esperar de índios, nem tão pouco demonstraram hostilidade. Como estavam parados a porta de minha casa, me pareceu ser minha obrigação ser educado e cumprimentá-los, dando-lhes as boas vindas. Lembrei me de filmes americanos e, de como os índios se cumprimentavam então, levantei a mão direita espalmada e disse:
Au!!!.
Os dois se entreolharam e o mais alto se dirigiu a mim.
-Au ???, Porque você está falando a língua dos cachorros?
- Ora, ora, vocês falam português e ainda por cima com sotaque gaúcho?
- Você queria que falássemos alemão? Estamos no Brasil, cara.
- Claro estamos no Brasil mas vocês são índios, pelo menos é o que parece.
- De fato somos índios, mas não é por isso que temos que falar a língua dos nossos ancestrais.
- Mas que ótimo, sejam bem vindos a minha casa. Não tenho muito a oferecer, não tenho café e nem uma geladinha, só alguns ovos de passarinhos.
- Obrigado, nossa demora é curta, só o tempo de você derrubar a sua casa.
- Derrubar? Mas acabei de construir e estava pensando em fazer um quarto de hóspede para amigos como vocês.
- Está em terras do CACIQUE, não pode ficar.
- Cacique? Então vocês tem uma aldeia por perto, adoraria conhecer.
- E vai, pois temos ordens de levá-lo a presença do cacique mas, se não quiser ir não será obrigado, basta voltar para o seu pântano, que é terra de ninguém.
- Como vocês sabem que eu venho do pântano?
Ele abriu a boca para responder mas o outro lhe tocou no ombro, então ele se calou.
- Onde fica a  aldeia de vocês?
-A 30 km naquela direção, atrás da colina. 
- Vocês estão bem longe de casa.
- Você  parece estar bem mais longe ainda, quer ajuda na demolição do barraco?
- Não pode ficar de pé? Para o caso de um entendimento com o cacique?
- Não haverá entendimento nesse sentido, no entanto você será bem vindo a aldeia. O seu destino, o cacique e os anciões é quem decidirão.
Bem, eu estava em vias de encontrar uma civilização, e é isso que eu queria o tempo todo e voltar para o pântano, não era a melhor das escolhas. Botamos abaixo a cabana, que não era lá grande coisa mesmo, peguei meus poucos pertences e segui os nativos rumo a uma grande caminhada. Os índios eram hábeis em andar pela mata e eu próprio já estava meio que familiarizado com as dificuldades da floresta, tanto que a nossa viagem prosseguiu sem maiores transtornos. Quando já havíamos percorridos cerca de uns 10 km, segundo os meus cálculos, paramos a beira de outro riacho. O índio me entregou um relógio falou que eu descançasse por duas horas, que eles também iriam descansar.
Faltava um minuto para o meio dia. Fiquei entretido, observando o relógio pertencente a um índio, quando levantei as vistas eles havia desaparecido num passe de mágica. Achei estranho, pois minha distração durara poucos segundos, mesmo assim não os vi afastar. Simplesmente desapareceram. 
Paciência, encostei em uma árvore, e pensei ter tirado apenas um cochilo quando os índios chutaram o meu pé:
- Levanta Gringo, vamos embora.
Mais duas hora de caminhada, nova parada para descanso e novo desaparecimento misterioso dos meus companheiros. Reapareceram de novo do nada atrás de mim, como se materializassem de repente. Questionei sobre esses sumiços e retornos assim tão sutis, mas eles nada disseram,  apenas seguiram em frente. Alguma coisas inexplicável estava acontecendo. Ou eles eram muitos hábeis em sair e voltar furtivamente, ou eu era muito lerdo para perceber. Confesso que estava meio apreensivo com a perspectiva de encontrar uma civilização desconhecida. Três meses na floresta, vivendo a custa do  que a natureza tinha a oferecer, sozinho, buscando o meu próprio sustento e  achava que estava perdido. Mas agora, em vias de viver uma realidade em meio a desconhecidos, não me sentia muito a vontade em relação ao meu futuro.  Me recordei de quando o índio quis falar do do pântano e foi barrado pelo outro. Porque? Que importância  poderia ter em fala sobre o pântano? Bem, eles eram subordinados a alguém superior e pelo vistos suas funções se reduziam em me conduzir até o cacique. Eles inclusive não demonstraram hostilidade  e até me deram a opção de voltar  ao pântano. Mesmo assim, eu não estava me sentindo muito a vontade e agora era tarde para voltar atrás pois foi justamente nesse momento  minhas conjeturas foram interrompidas pois atravessamos o portal da aldeia. Aproximava-se as l8 horas. 


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