terça-feira, 2 de abril de 2019

GUAJURÍS - CONTINUAÇÃO


CAP.  I - O NAUFRÁGIO

Meu nome é Valec. Não sou cientista, pesquisador, erudito, professor nem tão pouco escritor. Por forças de circunstâncias, me transformei em palestrante e aqui acolá, alcunhado de MENTIROSO, por conta de que não tenho como comprovar a veracidade da minha história. Ao longo da vida, a gente passa por graças e infortúnios que nos apresentam em momentos de isolamento e solidão, sem o testemunho de terceiros ou apresentação de registros comprobatórios legalmente válidos. O que exponho nesse relato, aconteceu de fato e peço veementemente a quem desse tomar conhecimento, que divulgue, repasse e dê fé pois se juramento tivesse força de lei eu não precisaria implorar credibilidade, bastaria jurar, o que não faço pois o mundo já está cheio de falsos juramentos. Mesmo dispondo de apontamentos feitos de próprio punho, ainda tenho que implorar que os aceitem como válidos, que não foram inventados, forjados.
Andava eu pela floresta amazônica,  não  como pesquisador, aventureiro, turista nem desbravador de mistérios da floresta, nem como caçador de aminais exóticos ou espécies raras da flora ou d fauna, apenas como homem perdido vítima de um naufrágio de um barco de viagem pelo rio Solimões. Me é dispensável descrever o motivo de tal viagem visto que um cidadão é livre para ir e vir nesse país, e somente dar satisfação, caso lhe aprouver. Nosso barco naufragou em uma remota curva do rio e partes dos destroços vieram a encalhar entre alagadiços num sitio perdido do mundo.Dos outros passageiros e tripulantes, nunca tive conhecimento de qual destino tiveram, se sobreviveram, se morreram, mesmo depois, quando voltei à civilização e tentei averiguar. Era um barco clandestino e embarcamos também em um porto clandestino, de forma não haver na capitania dos portos de Manaus nem mesmo registro de tal acidente. Isso não vem ao caso e não a motivo para alterar ou interferir nos fatos que aconteceram comigo desde então. Pois bem, levei quase dois dias para sair do alagadiço, encontrar chão mais firme para pisar, ainda que nessas paragens tudo estava sempre molhado. Já imaginando a minha penúria, antes de abandonar os destroços do barco, procurei encontrar alguma coisa de alguma utilidade e somente encontrei um  bornal velho de couro contendo saquinhos de um pó branco, os quais atirei ao rio, uma vez que não era da minha índole traficar ou consumir tal material. Encontrei também uns pedaços de corda e um cutelo  velho enferrujado. , objetos que me pareceram de grande utilidade para um homem perdido na floresta. Mas também, se por acaso tivesse encontrado um sortimento maior de coisas, não teria como transportar por aquele alagadiço trançado  de juncos e de cipós. Enfiei as cordas e o cutelo no bornal, pendurei no pescoço e dei início a minha fuga, supondo que o terreno firme estivesse mais próximo. Foi aí que realmente percebi que estava de fato perdido. Era bem fundo o que eu achava que fosse a margem do rio e aquele alagadiço penetrava floresta adentro. Mal conseguia pisar em uma lama mole, ou tudo aquilo seria somente lama? Não afundava justamente por ser muito trançado de juncos e cipós. E como era floresta mesmo, tinha as árvores onde eu pudesse me apoiar e seguir em frente. Seguir em em frente, em termos pois as vezes achava que não saia do lugar pois tudo em volta  parecia igual e já estava escurecendo.  Caiu a noite e segui em frente, ou para direita, para esquerda e possivelmente para traz em virtude da desorientação.Quando notei que o dia estava raiando, senti pisar mais firme, apressei o passo e saí no "seco".Deitei de costas ali mesmo na lama pois estava exausto e  precisava comer. Pensei, onde será que se acha um bom café por aqui? Avistei alguns arbustos floridos e abelha sugando o pólen. Ora, se abelhas podem comer, acho que também posso.  Comi algumas flores que não tinham gosto de nada, o que sugeria segurança alimentar. Depois de escapar de um  naufrágio, conseguir sair de um alagadiço daqueles, achar flores para comer, cheguei a conclusão  que minha sorte não era das piores. Salvo ser atacado por índios ou feras, poderia continuar a sobreviver. Água é o que não faltava.
Durante três dias, comi flores, ervas, sementes e raízes, alimentos que se não me mataram, alguns provaram desarranjos intestinais desagradáveis mas que no final me mantinham alimentado na medida do possível. Aos poucos, fui selecionando aquela dieta vegetariana de maneira que o organismo foi aceitando aqueles alimentos sumários. No sexto dia (sabia que era o sexto), porque ainda era possível memorizar, deparei com algo humano, um osso. Soube que era humano, porque tendo trabalhado certo tempo em um hospital, tinha vagamente uma noção da anatomia humana. Era uma tíbia. Pensei, alguém morreu por aqui já faz um bom tempo. 
Daqui para frente, não me preocupei mais em contar os dias, apenas fazia uma estimativa. Para que se preocupar se era sexta, domingo ou quarta? O único compromisso que eu tinha era em me manter vivo e  chegar nalgum reduto habitado, mesmo que por índios. Acreditava que poderia me entender com nativos. O perigo seria topar com onças ou qualquer animal feroz que gostasse de um bom petisco de carne humana. Mas graças a Deus não topei com nenhum e cheguei a conclusão que as feras preferissem sítios mais secos, do que toda aquela umidade. Para dormir, tinha que cortar muitos galhos para improvisar uma cama razoável naquele chão molhado. Certo dia, supondo já ter se passado uns três meses, finalmente encontrei terreno realmente seco. Havia saído oficialmente do pântano. Pensei, aqui deve morar o perigo, feras, índios e talvez até falta de água. Mas não seria justo se minha sorte fosse me abandonar agora. Para continuar andando, teria que me abastecer de água e a única vasilha que dispunha era o  bornal de couro. A mata raleou um pouco e eu pude avistar montanhas a distancia. Bom, floresta, montanhas, clima tropical, chuvas, então, deve haver muitos riachos e, água não deve faltar, vou em frente. De fato, encontrei um regato de boa correnteza, água limpíssima. Eu vinha bebendo água de charcos todo esse tempo e encontrar toda aquela água corrente era como encontrar o paraíso. Julguei que era momento de fazer uma casa. Trabalhei quatro dias cortando varas e limpando um terreno e em uma semana estava com uma cabana bastante razoável. Certa feita, ao lavrar uma madeira, o cutelo escorregou e atingiu uma pedra que soltou faíscas. Mais que depressa juntei folhas secas e gravetos junto a pedra e martelei incansavelmente até que "eureca", descobri o fogo. Daí para frente me senti dono do mundo: casa, água fresca e fogo. Assei rãs, ovos de pássaros e com algumas frutas para acompanhar minha dieta melhorou consideravelmente. Encontrei uma loca para guardar os tições para preservar o fogo pois aquela primeira chama me pareceu um 
acaso. Não seria possível ser preciso, mas por causa do tamanho do meu cabelo e barba, creio que poderia estimar em três meses o tempo que passara desde o NAUFRÁGIO. Já não me considerava um homem perdido na floresta e sim acolhido por ela tanto que a decisão de fazer um assentamento à beira daquele regato seria uma forma de resignação e aceitação. Estaria eu me transformando em um outro ROBINSON CRUSOÉ, TARZAN OU JIN DAS SELVAS?



---------- CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM-----------


- "Sua casa está em terras do cacique, não pode ficar"...
















2 comentários:

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